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APRENDIZAGEM NA PRIMEIRA INFÂNCIA


A aprendizagem nos primeiros anos de vida constitui a base que permitirá todo o desenvolvimento posterior.

O cérebro começa a se desenvolver nas primeiras semanas da gestação, com a formação das células primordiais que darão origem aos chamados neurônios, e das conexões entre os neurônios denominadas sinapses. A estrutura do cérebro é altamente complexa, formada por uma extensa rede de circuitos dos neurônios e seus prolongamentos entre as diversas regiões cerebrais. O processo de desenvolvimento e amadurecimento é contínuo durante toda a infância e adolescência e, para determinadas regiões cerebrais somente se completará no início da idade adulta. Mas, mesmo após o período de maturação, o cérebro continua a se modificar!

Um conceito fundamental em neurociência é o da Plasticidade Cerebral. “Plastos” deriva do grego e significa moldado, que tem capacidade de mudar de forma. O cérebro é um órgão em constante remodelamento em resposta às experiências. Durante toda a vida podemos produzir novas sinapses. As sinapses mais utilizadas se fortalecem, enquanto as que não são utilizadas tendem a enfraquecer, sofrendo a chamada poda sináptica. A formação de novas sinapses e os processos de poda, além de outros mecanismos, estão agrupados no conceito de Plasticidade. Há uma distinção entre a plasticidade que existe durante toda a vida, que é influenciada pela experiência – aprendizagem dependente de experiência – e a que ocorre nos primeiros anos, que necessita de experiência para começar a se desenvolver – aprendizagem expectante de experiência.

A Primeira Infância, fase compreendida entre 0 a 6 anos é um período crucial de profunda remodelação cerebral. Nessa fase ocorrem os chamados Períodos Sensíveis: momentos nos quais circuitos cerebrais específicos para formação de determinadas habilidades têm maior plasticidade e melhor resposta à determinada experiência ambiental. É o que acontece com a visão e a audição, por exemplo, que necessitam da exposição ao estímulo luminoso e sonoro respectivamente para que as áreas cerebrais responsáveis pelo processamento sensorial se desenvolvam. Por exemplo, a ocorrência de fatores que impeçam ou atrapalhem a visão do bebê, como a catarata congênita, deve ser tratada no início da vida para permitir que a plasticidade cerebral na área da visão seja o mais efetiva possível.

Quanto à linguagem, sabemos que os bebês nascem com a capacidade de distinguir os sons de todas as categorias fonêmicas existentes. Ao longo do primeiro ano de vida, em função dos sons dos idiomas aos quais os bebês são expostos, a capacidade de discriminação fonêmica universal vai se especializando. Para a pronúncia e proficiência gramatical o período sensível se estende até a adolescência. Há evidências extensas que apontam que o desenvolvimento da linguagem na primeira infância é base para o aprendizado pleno da língua posteriormente e está diretamente relacionado ao sucesso na alfabetização e no desempenho escolar.

As funções cognitivas mais complexas, como atenção, memória e raciocínio, por exemplo, também começam a se desenvolver na primeira infância, por meio de habilidades como: controle de impulsos, capacidade de redirecionar atenção e de memorizar regras. Os circuitos cerebrais responsáveis por tais funções são refinados durante adolescência até o início da vida adulta, mas as conexões fundamentais começam a se estabelecer ainda nos primeiros anos de vida.

Portanto, muito antes de a criança entrar na escola, ela aprende em todos os contextos de seus relacionamentos afetivos: em casa com os pais e cuidadores, nos ambientes de educação infantil, nos locais de recreação. A criança está sempre aprendendo!

Os períodos sensíveis são momentos que permitem a construção ótima de habilidades, mas também representam uma janela de vulnerabilidade a potenciais efeitos nocivos do meio. Na primeira infância a estrutura cerebral é altamente receptiva e a ausência de estímulos adequados, ou a ocorrência de estímulos negativos, podem deixar marcas duradouras. Uma famosa metáfora para ilustrar o desenvolvimento desse processo compara a construção da arquitetura do cérebro com a arquitetura de uma casa. Durante os primeiros anos de vida ocorre a formação da base, dos alicerces, da fundação e do piso de uma casa. A partir de uma estrutura sólida e firme podem, então, ser construídas as paredes, as aberturas e o teto, dando funcionalidade à casa. Se desde a fundação da obra houver irregularidades, com falhas e defeitos não corrigidos, todas as etapas da construção a seguir também serão prejudicadas. Ademais, o custo para se corrigir esses defeitos e o tempo necessário para arrumar as falhas são mais altos e mais difíceis quanto mais avançada estiver a obra. Por outro lado, se as correções de problemas forem realizadas ainda na construção da base, o resultado final poderá ser o mais próximo do desejado possível. Assim, as capacidades que começam a se desenvolver ao longo dos primeiros anos são pré-requisitos fundamentais para o sucesso ao longo de toda a vida, na escola, no trabalho e tem repercussão para toda a sociedade.

A promoção do desenvolvimento integral saudável, com nutrição e cuidados de saúde adequados, ambiente familiar afetivo, seguro e estimulante, relações estáveis e incentivadoras, além da oferta de educação de qualidade, fornecem o alicerce para que cada criança viva bem no presente e alcance seu potencial pleno no futuro.

Na Primeira Infância, toda a aprendizagem acontece por meio das relações que a criança experiencia. Os cuidadores devem estar atentos e devem dispender TEMPO interagindo com as crianças. Não é necessário que se invista em tecnologias, brinquedos e materiais dispendiosos. As crianças aprendem através de brincadeiras desafiantes e prazerosas, por experiências que estimulem seus sentidos e em contextos nos quais se sintam atendidas, protegidas e amadas.

Autora: Juliana Antola Porto é Médica Neuropediatra e Mestre em Neurociências pela PUCRS, foi visiting scholar no Programa de Mente, Cérebro e Educação da Harvard Graduate School of Education e research fellow do Laboratório de Neurociências Cognitivas do Boston Children’s Hospital, Harvard Medical School. É membro do Comitê Científico do Núcleo Ciência pela Infância. Integra a equipe Mindset Education.

http://mindseteducation.com.br/

http://afterschool.net.br/

Fontes:

FMCSV:

http://www.fmcsv.org.br/

http://www.fmcsv.org.br/pt-br/acervo-digital/Paginas/o-impacto-no-desenvolvimento-da-primeira-infancia-sobre-a-aprendizagem.aspx

Center of the Developing Child-Harvard http://www.developingchild.harvard.edu/resourcecategory/portuguese-resources/

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